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quarta-feira, 27 de abril de 2011

A SAGA DE JEITOSINHA - CAPÍTULO XIX

CAPÍTULO XIX

Marilena acordou em sua cama, e sua primeira visão foi Aníbal, um dos filhos menos importantes, daqueles que só fazem figuração na trama.
- Anibal… Que sonho horrível… Pensei que seu pai…
- Não foi um sonho, mamãe. Ele voltou! A mulher gritou em total desespero:
- Não pode ser! Não pode ser!
O filho estranhou a reação. Alheio aos problemas que infernizavam a vida de Marilena, Adenair e Jeitosinha, sem saber que Ambrósio era a causa de muito sofrimento, esperava da mãe uma manifestação de alegria.
- Mãe… Você não entende? O papai voltou! Meio caidaço, é verdade, mas está vivo! Você deveria estar feliz! A mulher esboçou um sorriso forçado:
- Sim, meu amor. Claro. Foi só o susto. Claro que estou feliz.
Neste instante, já de banhozinho tomado e vestindo um velho e confortável pijama, Ambrósio entra no quarto.
- Marilena…
- ?? você mesmo, Ambrósio? – perguntou a mulher.
- Estou tão deformado assim? Claro que sou eu!
Ambrósio não tinha na voz a rispidez habitual. Parecia fragilizado. Sua fala era pastosa. Um canto da boca não se mexia e um fio permanente de baba escorria rumo ao pescoço.
- O que aconteceu com você?
- Não me lembro. Não consigo me lembrar de muita coisa. Vaguei pelas redondezas e aos poucos as memórias foram voltando… Nossa casa, você, nossos filhos…
- E sobre o acidente que o mutilou?
- Nada. Não me lembro de nada. Só vejo uma cena estranha… Assustadora e irreal. Não quero falar sobre isso.
Os olhos do homem transmitiam o pavor que lhe causava a simples menção da cena. E a imagem que vinha à sua cabeça era a do travesti, loiro e nu, empunhando uma serra elétrica.
No hospital público, Adenair acordava da anestesia.
- C-como foi a cirurgia, doutor? – perguntou ao homem de branco parado ao seu lado.
- Foi bem. Não consegui fazer um acabamento muito bom. Sabe como é, cirurgia plástica é uma coisa complicada… Mas eu mesmo já vi muita vagina mais feia por aí! He…He… – o médico amigo de Dona Nair insistia em seu humor infame.
- Meu pênis, doutor… O que vocês fizeram com ele? Mesmo detestando o que ele considerava um corpo estranho, Adenair sabia que era um pedaço seu que havia sido estirpado. E lhe assustava a idéia de que ele pudesse ter ido parar numa cesta de lixo hospitalar…
- Fizemos um transplante. Ele agora pertence a um marombeiro adepto do sexo bizarro, que perdeu o dele quando recebia carinhos orais de um pitt-bull…
- Melhor assim! – Animou-se Adenair – quando recebo alta?
- Amanhã, se tudo correr bem.
“Vai dar tudo certo”, pensou o – ou melhor – a jovem. “Vou virar uma linda mulher, como Jeitosinha, e conquistar o coração de Thiago!”
No seu apartamento, Thiago ainda olhava fixamente a arma. Sentia-se ultrajado, perdido, confuso e traído. Mas não conseguia evitar que a imagem de sua loira amada lhe viesse à cabeça. “Onde ela estará agora?”, perguntava-se.
Mal sabia ele que Jeitosinha, naquele momento, abria a porta de entrada de sua casa para estar frente a frente com o pai que matara!
Qual será a reação de Ambrósio?
Empolgante! Sensual! Nojenta! A sua novela continua amanhã, em mais um capítulo inédito.
Por trinta segundos, que pareceram uma eternidade, Jeitosinha e Ambrósio se encararam fixamente. Ela vinha aprendendo no bordel de Madame Mary tudo sobre a arte da dissimulação, e conseguiu camuflar o medo, a surpresa e a confusão mental que lhe causava a imagem, ali na sua frente, do homem que assassinara.
A expressão de Ambrósio era inocente, quase infantil. O fio de barba intermitente continuava a banhar-lhe o queixo. Com sua voz pastosa, após o constrangedor silêncio, ele perguntou:
- Quem é você?
Jeitosinha suspirou aliviada. Continuava sem entender o que havia acontecido. As marcas de cortes no rosto e braços de Ambrósio indicavam que ela realmente o havia ferido, mas talvez não tivesse consumado o crime, pensou. Talvez tenha sofrido alguma espécie de alucinação durante o ataque com a serra-elétrica. Talvez Ambrósio tenha conseguido sair da casa, se arrastando. Mesmo assim, quem limpara o chão e os móveis?
Nada disso era tão importante quanto o fato de que o pai, talvez pelo choque de ter sido vitimado pela própria filha, não conseguia reconhecê-la. “Deve ser algum tipo de defesa emocional”, concluiu.
Muito mais desconfortável com a situação estava Arlindo. Seu plano de explorar a irmã se esvaziara, em parte, com a reação do pai ao vê-la. Se Ambrósio não reconhecia Jeitosinha, e havia perdido sua índole opressora, o que a irmã teria a temer?
De fato, a moça não tinha mais nada a perder. Depois da decepção com seu amado Thiago, e todas as emoções que tomaram sua vida de assalto, o futuro se configurava diferente. Ela trocou olhares com Arlindo. Sorriu, superiora, e ele entendeu o recado.
Jeitosinha estava livre de sua influência maligna mas, curiosamente, não pensava em abandonar o bordel de Madame Mary.
A misteriosa mulher – que ela mal vira e que não poderia reconhecer sob a máscara – de alguma maneira fez com que recuperasse sua auto-estima. Na casa de encontros a aceitavam como ela era. E agora havia ainda Laura Croft, a linda ruiva que havia despertado estranhas emoções em Jeitosinha. Ela vinha, aliás, fazendo um esforço sobrehumano para esquecer Thiago, e tentava se apegar à emoção daquela tarde de prazer como se residisse ali a sua salvação.
Se Jeitosinha agora via o bordel como uma benção, isso não significava que ela perdoava Arlindo. Ao contrário, havia planejado para o irmão uma terrível vingança…
Quanto aos pais, o próprio destino havia se encarregado da punição. Ambrósio era agora um ser desprezível, débil e deformado. E sua mãe, que presa a suas convenções sociais jamais encararia a separação, estava condenada a aturar aquele ser repugnante pelo resto de suas vidas.
Jeitosinha estava imersa neste tipo de reflexão quando alguém bateu à porta. Arlindo foi atender e deparou-se com uma morena exuberante, de mais ou menos trinta anos. Ela tinha cabelos negros e lisos, à altura dos ombros. Os olhos de um azul cristalino contrastavam com a pele clara. Mostrando um distintivo ela se apresentou:
- Sou a detetive Vanessa, da Polícia Civil. Vim investigar o desaparecimento de Ambrósio.
Todos na casa, inclusive o próprio Ambrósio, trocaram olhares surpresos.
Do outro lado da cidade, o angustiado Thiago toma sua decisão. Virando a arma em direção à própria cabeça, ele finalmente aperta o gatilho.
Ele morreu? Ele morreu?
Descubra amanhã, em mais um capítulo inédito!

A SAGA DE JEITOSINHA - CAPÍTULO XVIII


CAPÍTULO XVIII

O sol despencou no horizonte tingindo o céu de vermelho. A silhueta perfeita de Jeitosinha, seus longos cabelos loiros, seios voluptuosos, coxas grossas e bumbum empinado, recortados pelo céu do entardecer, eram uma visão idílica. A moça coçou o saco e cuspiu no chão.
- Pôrra, mais essa agora. Achei muito bom ser homem… – resmungou, no jardim florido da casa de Madame Mary, ainda sentindo na boca o gosto de sexo.
Da janela, a ruiva que havia sido possuída por Jeitosinha, cujo nome de guerra era Laura Croft, suspirava diante da visão do mais radiante e sensual ser humano que já havia conhecido. E olha que ela já tinha transado com uns três maracanãs lotados.
Em seu apartamento, do outro lado da cidade, o angustiado Thiago olhava fixamente o revólver que empunhava. Acabar com a própria vida parecia ser a solução mais plausível para conseguir um pouco de conforto.
Na casa de Jeitosinha, um fio de lágrima escorria pelo rosto de Marilena enquanto ela lia o bilhete deixado por seu filho Adenair:
“Querida mamãe, sem a presença opressora de papai, não vejo mais razão para negar minha própria natureza. A verdade é que, embora na teoria tenha dado à luz sete varões, na prática a senhora tem duas filhas. Me sinto tão mulher quanto Jeitosinha. Não tive, como ela, o privilégio de desfrutar da condição feminina, mesmo que por alguns anos de ilusão. Mas estou disposta a recuperar o tempo perdido. Amanhã terei extirpado de mim, definitivamente, a minha masculinidade. Quero ser uma mulher total. Então vou poder conquistar o coração de Thiago, me casar com ele até ter dois filhos: Claudney Felipe e Luana Piovani Aparecida. Beijos. Adenaíra”
As pernas da sofrida mulher não conseguiram sustentar o peso do corpo. Sentada no sofá, amassando a pequena nota entre os dedos, Marilena pensava em como sua vida havia se transformado em questão de dias.
- Meu Deus… O que poderia ser pior? – Perguntava-se, em voz alta.
Neste momento um homem sujo e deformado, metido em roupas fétidas, mancando e babando, abre abruptamente a porta.
- Querida, cheguei!
Ambrósio está de volta!
Não perca, a seguir, capítulo inédito da obra mais trash da Internet!

A SAGA DE JEITOSINHA - CAPÍTULO XVII

CAPÍTULO XVII

A casa de Jeitosinha era cenário de tempos estranhos. O desaparecimento do pai parecia preocupar sua mãe e irmãos, mas a loira quase perfeita tinha outras atribulações.
Quem havia escondido o corpo de Ambrósio e apagado as pistas do assassinato? Quem havia telefonado a Marilena, fazendo-se passar pelo morto?
Jeitosinha não havia se esquecido de sua vingança. Aliás, também incluira Arlindo na lista de desafetos. Mas o desfecho insólito de seu primeiro crime acabara inibindo-a. Era preciso esperar o momento certo. A prioridade era entender tudo aquilo. E, como se não bastassem tantas reviravoltas do destino, havia a decepção com Thiago, a descoberta da própria sexualidade, os encantos misteriosos da casa de Madame Mary…
Enquanto Adenair procurava, no maior hospital público da cidade, o médico indicado por dona Nair, Jeitosinha voltava ao bordel para uma reunião com a nova patroa.
Madame Mary fez uma longa explanação sobre a arte do prazer, uma espécie de preparação teórica para o que viria depois. A expectativa de colocar em prática aquela técnica apurada excitava Jeitosinha.
Ao término do encontro, encaminhava-se para a porta de saída quando sentiu dedos suaves tocando seu ombro.
- Oi. Você é nova por aqui? – perguntou uma linda ruiva de sorriso sedutor.
- Sim… – respondeu, timidamente – Mas ainda não estou trabalhando…
- Ah… ?? a nova pupila de Madame Mary… Está gostando da preparação?
- Bem… – disse Jeitosinha – ?? tudo muito excitante, mas não vejo a hora de entrar em ação.
A ruiva apertou suavemente a cintura da loira e, olhando no fundo dos olhos de Jeitosinha, propôs:
- Talvez possamos começar agora…
A resposta teve uma ponta de ironia:
- Cuidado, querida. Você pode se surpreender com o que vai encontrar…
- Adoro surpresas! – emendou a ruiva, já puxando Jeitosinha pela mão até um quarto próximo.
A poucos quilômetros dali, um médico de barba por fazer e jaleco puído conversava com Adenair.
- Bom, você sabe que o SUS não cobre este tipo de operação. Mas posso dizer no prontuário que trata-se de uma extração de apêndice. Aliás, não deixa de ser verdade… – disse o homem, rindo de sua própria piada.
- Eu nem sei como lhe agradecer…
- Tudo bem… Eu jamais teria aprendido obstetrícia sem a ajuda de dona Nair. Será uma forma de retribuir o favor.
A operação de mudança de sexo foi marcada para o dia seguinte e Adenair voltou para casa em passos lépidos.
No bordel, Jeitosinha vivia mais uma forte emoção: sua primeira vez com uma mulher. E deliciava-se com a descoberta das inúmeras possibilidades de interação entre o côncavo e o convexo, tantas vezes cantadas pelo Rei Roberto…
Rei Roberto? Côncavo e convexo? Deus, esta novela piora a cada dia!
Não perca, amanhã, capítulo inédito da obra mais trash da Internet!

A SAGA DE JEITOSINHA - CAPÍTULO XVI


CAPÍTULO XVI

- Thiago, eu sempre te amei…
A declaração de Adenair, um desabafo cuspido pelo seu coração angustiado, deixou o sofrido namorado de Jeitosinha perplexo.
- Não, Adenair… Não é possível! Você é…
Como completar a frase? O que era Adenair? O que era Jeitosinha? Quem era ele? Quantas certezas jogadas fora! Quanta boiolice repentina, transformando sua vida num filme de Almodóvar!
- Durante muito tempo sofri em silêncio. Achei que nunca teria coragem de me expor. Mas desde que soube da condição de Jeitosinha, e percebendo que você ainda gosta dela, vi que por mais difícil que seja, meu sonho não é impossível. Me dê uma chance! Você vai me amar também!
- Você não entende, Adenair? Jeitosinha é diferente! ?? uma mulher quase completa!
- Não tente se enganar, Thiago… – respondeu – Será que no fundo do seu coração você não tinha a percepção de quem ela realmente era? Você pode afirmar com certeza que é heterossexual?
Ainda traumatizado pela experiência recente, Thiago percebeu que talvez Adenair tivesse razão. Mas ele não se sentia apto a penetrar o lodo de suas emoções. Reagiu rejeitando, com convicção a hipótese de que fosse gay.
- Sim, Adenair. Sou heterossexual. Aliás estou farto de tanta farsa e dissimulação. Quero encontrar uma mulher de verdade, que não me surpreenda com nenhum protuberância antinatural!
Thiago deixou para trás um Adenair magoado e arrependido. Sabia que desejava muito aquele homem, sentia-se mal por tê-lo provocado com palavras e estava disposto a qualquer sacrifício para tê-lo ao seu lado.
- Você quer uma mulher de verdade, Thiago? – murmurou para si mesmo, já que o homem se afastara em passos rápidos – Pois eu serei uma. A mais bela, completa e exuberante que você já viu!
Adenair dormiu pouco aquela noite. Na manhã seguinte, procurou a velha dona Nair, parteira e amiga da família. Sem constrangimento, o rapaz contou à mulher o seu drama e lhe fez um pedido inusitado:
- Preciso mudar de sexo. Preciso me tornar uma mulher. Mas não tenho dinheiro, dona Nair! Por favor, me ajude!
A velha coçou sua cabeça grisalha.
- Sei lá, menino… Nem cesariana eu consigo fazer, quanto mais extrair uma bingola.
Adenair cobriu o rosto e chorou convulsivamente.
- Mas eu conheço um médico que atende pelo SUS…
Os olhos do rapaz subitamente brilharam de esperança:
- Me leve até ele! Me leve até ele!
Troca de sexo pelo SUS? Bom, não xingue a gente: foi sugestão de um leitor…
Não perca, amanhã, capítulo inédito!

terça-feira, 26 de abril de 2011

A SAGA DE JEITOSINHA - CAPÍTULO XV

CAPÍTULO XV

Ambrósio não conseguia se lembrar exatamente quem ele era. Imagens confusas de um travesti loiro com uma moto-serra lhe vinham à mente, enquanto ele reconhecia alguns trechos do caminho. Acabou chegando até a porta de sua casa, mas não teve coragem de entrar, especialmente porque não tinha a menor idéia de que lugar era aquele.
Viu que dois homens jovens conversavam, sentados num banco da varanda. O dia estava quase nascendo. Do outro lado da rua, Ambrósio reconheceu algo de familiar naqueles rostos.
Mas quem seriam? Aliás, quem seria ele mesmo? O homem subitamente percebeu que sequer podia lembrar-se de sua própria face. Procurou algum vidro ou espelho onde pudesse se ver refletido. Numa grande e quieta poça de água, viu sua cara monstruosa.
Com um grito aterrador correu rumo a um matagal próximo. Estava confuso e com medo.
Thiago e Adenair ouviram o grito, mas não deram muita importância.
- Você pode se abrir comigo, Thiago. Sei tudo a respeito de Jeitosinha.
- Tudo? – surpreendeu-se.
- Sim… Ela é uma vítima, tanto quanto você…
Pelo comentário, Thiago percebeu que talvez Adenair não soubesse que a irmã era uma prostituta. “Se ela conseguiu me enganar, porque não enganaria o irmão?”, perguntou-se. Tombando diante da pressão, Thiago chorou convulsivamente.
Adenair puxou-o em direção ao peito, abraçando-o e acariciando seus cabelos. Thiago pôde perceber que o toque e o suave perfume do rapaz lembravam muito os de sua irmã. Sentiu-se confortável por alguns minutos.
“Enxugando as lágrimas, Thiago viu bem de perto os olhos de Adenair, tão parecidos com os de Jeitosinha. Só então deu-se conta de que algo estranho acontecia ali: o apoio que estava recebendo, mais físico e mudo do que um simples diálogo, não é comum entre os homens.
- Adenair, porque você me abraçou deste jeito? – perguntou, temendo a resposta.
Num matagal a poucos metros, Ambrósio começava a se dar conta de quem era. Talvez por um bloqueio, causado pela morte violenta ou pelo processo utilizado para trazê-lo de volta à vida, não associava o travesti loiro à sua amada Jeitosinha.
Mas já sabia que ele era o chefe daquela casa que reconhecera, e que estava deformado por alguma terrível razão, a mesma pela qual sentia-se impelido a manter-se escondido.
Na varanda da casa, Adenair começava sua revelação. Cada palavra pronunciava doía como um parto.
- Bem, Thiago… Também tenho um segredo…
Será que Thiago e Adenair… hummm… Será? E Ambrósio? Vai querer vingança? As perguntas são as mesmas de ontem, provando que não é só a novela das oito que enrola a gente…
Não perca, amanhã, capítulo inédito!” #

A SAGA DE JEITOSINHA - CAPÍTULO XIV

CAPÍTULO XIV

Thiago havia bebido a tarde inteira, buscando no álcool a coragem necessária para por a prova sua masculinidade. Por isso mesmo, a imagem de Jeitosinha, naquele bordel de luxo, observando-o em pleno ato de amor com um travesti, pareceu uma alucinação ou um sonho.
- Amor… Não é nada disso que você está pensando! – disse o rapaz, sem muita inspiração.
Depois, recuperando a sobriedade, foi tomado por um tipo diferente de perplexidade.
- Mas… Espera aí… O que você está fazendo aqui? – perguntou Thiago à sua amada, enquanto a prostituta, prevendo o barraco, saia de fininho.
Cheia de revolta, Jeitosinha disse a primeira coisa que lhe ocorreu para ferir Thiago:
- O que lhe parece? Pelo visto você prefere as morenas… Mas nós, loiras, somos muito boas na arte de enlouquecer os homens…
- Não pode ser, meu amor… Diga que é um sonho… Me belisca para eu sentir dor e acordar!
- Depois do que eu vi pela fresta da porta, tem certeza de que não tem nada doendo aí? – Alfinetou jeitosinha, cheia de ironia.
- Não! Você não! Não pode ser! Não pode ser! Thiago puxava os próprios cabelos com violência e rolava pelo chão num desespero patético. Jeitosinha apenas jogou os cabelos longos para o lado, com aquele gesto superior com que as loiras costumam descartar os simples mortais, e retirou-se do ambiente.
Seu coração por dentro estava em frangalhos, mas o que Thiago viu foi a imagem de uma mulher fria.
“Com passos precisos e a elegância de uma modelo, Jeitosinha atravessou o corredor e voltou ao escritório de Madame Mary. Lá dentro, tombou de joelhos e começou a chorar.
- Não pode ser, Madame Mary… Meu amado, Thiago… Um homem tão puro e íntegro… Aqui! Com aquela… aquela… – a certeza de que não era tão diferente da exótica morena impedia Jeitosinha de achar a palavra certa.
- Os homens são todos iguais, minha criança – disse Mary, acariciando a loira. Uns animais capazes de qualquer coisa por um momento de luxúria. Eles nunca saberão o que é o amor verdadeiro. ?? justamente isso que torna tão fascinante a nossa arte de sedução…
Jeitosinha levantou os olhos e, agarrando-se às pernas da misteriosa mulher, implorou:
- Ajude-me, Madame! Ajude-me a ser como você!
- Claro, querida… Claro….
Madame Mary sabia que tinha nas mãos um diamante em estado bruto. Um diamante pronto para ser lapidado na dor de um coração partido.
A maioria dos leitores que nos escreveram sobre o Folhetim acham que os ETs não têm nada a ver com a história. Eles ainda vão terminar o que começaram, depois vão embora para sempre…
Condenados a sair da história pelos leitores deste folhetim, que entupiram nossa caixa de e-mails com pedidos neste sentido, os Ets finalmente se preparam para voltar ao seu planeta ameaçado.
- O que você andou fazendo a tarde inteira? – Perguntou um dos membros da equipe ao chefe da expedição, um cientista brilhante em seu mundo.
- Nada demais… Encontrei os restos de um humano esquartejado e, só para me distrair, o trouxe de volta à vida… – disse, apontando uma figura no canto do laboratório.
Toda a tecnologia dos homenzinhos verdes não foi suficiente para impedir que, visualmente, o resultado final ficasse sofrível. Mas era possível reconhecer, naquele homem repleto de cicatrizes, as feições de Ambrósio.
- Ele recuperou a memória e a razão?
- Está um pouco confuso ainda… – disse o cientista. – Talvez nunca volte a ser o que era antes, mas foi divertido brincar de de Deus e inverter a ordem natural das coisas, antes de deixar definitivamente este mundinho atrasado. Sabe-se lá o que este monstro fará nesta sua volta à vida…
A nave deixa o homem à beira da estrada deserta e levanta vôo rumo ao infinito.
Não muito longe dali um cabisbaixo Thiago faz seu caminho de volta para casa, ainda entorpecido pela descoberta de que sua doce Jeitosinha era uma garota de programa.
Como se não bastasse, sentia a confusão mental causada pela percepção de que sua experiência com o travesti no Bordel foi totalmente inconclusiva. Até o momento em que Jeitosinha interrompeu o ato sexual, ainda não havia encontrado prazer. Mas era difícil saber como a coisa iria terminar.
“Thiago não tinha pressa para chegar a lugar nenhum. Precisava pensar e, talvez involuntariamente, acabou passando em frente à casa de Jeitosinha.
Sentiu um nó no coração ao ver a janela do quarto da moça. Saudades de um passado perfeito e uma profunda revolta por sentir que um futuro feliz havia sido abortado.
- Thiago?
Por um momento pensou ser Jeitosinha, mas a voz que vinha da varanda escura da casa era mais grave.
- Adenair?
- Sim… – disse o suave irmão da loira, aproximando-se. – Você não parece bem… Quer conversar?
Thiago encarou Adenair. Ele nunca havia percebido o quanto o rapaz se parecia com Jeitosinha!
- Não creio que você possa me ajudar…
- Talvez eu possa… – respondeu o moço, com a voz tremula de emoção e desejo.
Será que Thiago e Adenair… hmmm… Será? E Ambrósio? Vai querer vingança?
Não perca, amanhã, capítulo inédito! #

A SAGA DE JEITOSINHA - CAPÍTULO XIII

CAPÍTULO XIII

O júbilo de Jeitosinha durou pouco. Se num primeiro momento a idéia de ter salvo a humanidade era alentadora, horas depois o que a fantástica experiência lhe causava era mais revolta e dor.
De que adiantava ter salvo o mundo, se não obteria pelo seu ato qualquer tipo de reconhecimento? Para o restante da humanidade, ela continuava sendo aquele ser anacrônico, discriminado por fugir dos padrões.
Só uma pessoa na cidade estava se sentindo mais angustiado: Thiago.
Num bairro distante, trancado em seu apartamento, o pobre rapaz refletia sobre a grande – bota grande nisso – emoção que sentiu em sua primeira noite de amor com Jeitosinha.
“Será que eu gostei porque era a minha amada?”, perguntava-se. “Ou será que tamanho prazer adveio do fato de que tratava-se de um homem? Sou hetero ou gay?”.
- Quem é você? – Gritou Thiago angustiado, olhando sua imagem no espelho.
Sentia-se sujo. Seus desejos o incomodavam, como se ele tivesse experimentado a fruta do pecado.
Mas sabia que Jeitosinha era uma vítima, como ele. Ele podia entender que a namorada era um modelo de virtude e pureza, e que seu gesto, ao seduzi-lo, era apenas uma grande manifestação de amor!
Por um momento, olhou para o problema sob outra perspectiva, muito menos dramática: “Sim, Jeitosinha é pura. ?? a minha Jeitosinha. Em nome desta pureza vale a pena continuar com ela!”, concluiu.
Se ela fosse um travesti vulgar… mas não! Ela foi criada como uma mulher, sob rígidos padrões morais! Quem sabe eles ainda pudessem ter uma vida juntos, mantendo a condição de Jeitosinha em segredo?
Num fragmento de sonho, Thiago se viu casado com ela, vivendo grandes noites de amor e criando duas crianças adotadas – Cléverson Luís e Suelen Aparecida – como se fossem seus filhos biológicos. Pensou em procurar a sua doce amada naquele mesmo momento e propor a realização do casamento, tão desejado em tempos menos complicados.
Mas antes precisava enfrentar seu próprio demônio interior. Precisava saber se o que sentiu naquela noite mágica foi amor ou pura volúpia. Precisava, enfim, fazer amor com outro travesti e colocar-se à prova!
Thiago resolveu que aquela noite iria a um bordel atrás de respostas. Iria buscar reviver, com uma vulgar criatura da noite, emoções tão… hã… grandes quanto as que viveu com sua inocente Jeitosinha.
Mal poderia imaginar a grande surpresa que o esperava…
Confira amanhã o próximo e emocionante capítulo! #

A SAGA DE JEITOSINHA - CAPÍTULO XII

CAPÍTULO XII

Lentamente Jeitosinha foi recuperando a consciência. Nos primeiros minutos, aquele cenário de ficção científica parecia apenas um sonho estranho. Mas à medida em que as imagens ganharam contornos e cores – e que aflorou em sua mente a lembrança dos últimos momentos no carro – um indescritível pânico tomou conta de nossa heroína.
Seu grito agudo acordou Arlindo que, como ela, encontrava-se atado a uma chapa metálica, quase verticalmente. A sala estava deserta mas, minutos depois, duas das criaturas verdes entraram no ambiente.
Mesmo sendo de uma espécie muito diferente, Jeitosinha sentiu que aqueles seres estavam muito tristes. Seus enormes olhos revelavam esta condição. Usando um estranho aparelho, que acoplado à boca do extraterrestre funcionava como um tradutor, a criatura que parecia liderar as demais dirigiu-se ao casal.
- Creio que lhe devemos explicações…
Jeitosinha e Arlindo estavam paralisados pelo medo. O homem verde continuou:
- Meu planeta está passando por uma crise terrível. Construímos uma civilização poderosa e avançadíssima. Controlamos todo a nossa galáxia, mas estamos condenados à extinção.
Os rostos curiosos dos irmãos não moviam um só músculo, enquanto o ET narrava sua história.
“Ele explicou que, por um capricho da biologia que a ciência não conseguiu contornar, estava nascendo em seu planeta um número infinitamente inferior de mulheres, numa comparação com o número dos homens. Pelos cálculos dos cientistas, em não mais que quinhentos anos seu povo terá desaparecido, a não ser que se encontre uma alternativa para se reverter o quadro.
Numa análise superficial – continuou a criatura – percebemos que talvez fosse possível utilizar as terráqueas para gerar nossos filhos. Se a idéia se confirmasse, nossa intenção era a de exterminar todos os homens e levar conosco as mulheres. Minha missão veio à Terra com o propósito específico de, analisando a anatomia femina, abortar ou autorizar a operação.
O homem verde deixou-se desabar numa cadeira, vencido pelo desânimo.
- Mantivemos você sedada por seis horas – disse, dirigindo-se a Jeitosinha – e descobrimos, depois de estudá-la, que a máquina humana é muito mais complexa do que esperávamos. Vocês, mulheres terráqueas, são bastante parecidas com os homens.
Jeitosinha esforçou-se para não demonstrar sua enorme alegria: ao ser confundida com uma mulher, sem querer ela havia salvado a raça humana da destruição total!
- Vamos libertá-los e partir atrás de outros mundos. – Encerrou o ser.
Já de volta ao carro, ainda atônita por aquele turbilhão de emoções, Jeitosinha abraçou seu irmão e inimigo:
- Você entende, Arlindo? Minha vida tem um sentido! O que são nossas rusgas do dia-a-dia diante desta experiência tão avassaladora?
Arlindo afastou Jeitosinha e esboçou um sorriso pálido.
- ??, irmã. Foi bom. O dia está nascendo e devemos voltar para casa. Mas como a vida continua, amanhã você estréia no bordel.
O que estes ETs vieram fazer na história? Será que se foram da mesma forma estúpida com que entraram?
Confira amanhã o próximo e emocionante capítulo!” #

A SAGA DE JEITOSINHA - CAPÍTULO XI

CAPÍTULO XI

A família finalmente percebeu que Ambrósio estava desaparecido. Ele não havia voltado da pescaria nem dado sinal de vida. Marilena chamou a Polícia, que pareceu não dar muita importância à ocorrência. Os dois policiais fizeram poucas perguntas, anotaram um boletim de forma burocrática e se foram em poucos minutos, levando uma foto do homem.
Jeitosinha chegou em casa quase na hora do almoço. Os irmãos não perceberam que ela passara a noite fora, mas sua mãe sim.
- Onde você estava? – perguntou. Jeitosinha ignorou a abordagem.
Sorte sua seu pai não estar por aqui. Ele não ia gostar disso… – insistiu Marilena, com um tom seco de reprovação na voz. A resposta da filha foi carregada de ironia:
- O que poderia preocupá-lo, mamãe? O risco de que eu perca a virgindade ou volte grávida para casa?
Marilena tentou acariciar o cabelo da filha, que afastou sua mão com um gesto brusco.
- Não me encoste! Eu odeio você! Um fio de lágrima escorreu pela face esquerda da sofrida mãe.
- Querida… Você é tão jovem… Tem uma vida pela frente! Ainda há tempo de encontrar a felicidade…
- Como eu poderia ser feliz? Eu sou uma mulher aprisionada no corpo de um homem!
- Veja o lado positivo… – tentou consertar Marilena – Você não tem tensão pré-menstrual, não precisa sentar-se em privadas sujas de boate… Mantenha a calma e a resignação. Você ainda encontrará algum homem que a aceite como você é!
“Sim”, conjecturou Jeitosinha. “Este homem talvez seja Thiago. Mas como ele estará se sentindo depois de nossa estranha noite de amor?”. Ela pensou durante todo o dia no seu amado, reunindo forças para enfrentar sua primeira noite no bordel de luxo.
Curiosamente, a expectativa de entregar-se a estranhos não a incomodava. Desde a revelação de sua condição, ela não se reconhecia naquele corpo. Não sentia que tivesse que zelar dele.
Eram nove da noite quando Jeitosinha entrou no fusca de Arlindo, rumo à casa de encontros. O local ficava próximo, mas era preciso percorrer um pequeno trecho numa estrada pouco movimentada.
Justamente quando passavam pela parte mais escura e deserta do percurso, uma luz surgida do nada cegou momentaneamente Arlindo, impedindo-o de dirigir. O rapaz pisou no freio abruptamente. Antes que pudessem esboçar qualquer reação, as duas portas do carro foram abertas, e o casal foi retirado de dentro do veículo por mãos poderosas.
Pouco antes de tomar uma descarga elétrica que a faria perder os sentidos, Jeitosinha pôde ver a face de seus raptores: eram homenzinhos verdes vestindo estranhos macacões prateados.
Jeitosinha e Arlindo nas mãos de ETs!
Confira amanhã o próximo e emocionante capítulo!” #

A SAGA DE JEITOSINHA - CAPÍTULO X

CAPÍTULO X

Jeitosinha não acreditava no que acabava de ouvir. Desde a revelação de
seu trágico segredo, sentia-se num pesadelo sem fim. Não bastasse todo o
ódio em eu oração, o estranho desfecho da morte do pai e a perda de Thiago, seu
amado, agora a nossa heroína era chantageada pelo cruel Arlindo!
- Você quer que eu me prostitua?
- Sim. – confirmou oirmão, sem um pingo de emoção na voz – Existe um
bordel de luxo aqui perto de casa…Pessoas exóticas como você podem
ter um bom valor no mercado.
- M-mas… Eu sou virgem! Sou inocente! – retrucou Jeitosinha, aos prantos.
- Pois você tem até amanhã para aprender o que precisa.
Arlindo deixou o quarto da loira batendo a porta. Adenair entrou
em seguida, curioso para saber o que acontecera. Jeitosinha
contou resumidamente a história.
- Mas não pode ser! Você precisará matá-lo também! – reagiu o enrustido,
batendo o pezinho nervosamente.
- Sim, mas não poderei fazê-lo agora. Não com o estranho desaparecimento do
corpo de papai. Precisamos desvendar primeiro este mistério – disse Jeitosinha,
recompondo-se.
- Então você…
- Não resta outra alternativa, Adenair. Terei que me submeter aos
caprichos de Arlindo. E pode ter certeza: amanhã estarei mais pronta do que ele
pensa!
***
Pela primeira vez desde o rompimento, Jeitosinha voltou àquela noite ao
apartamento do Thiago. Encontrou-o em estado de total desespero,
sorvendo doses e mais doses de uísque barato.
- Você destruiu a minha vida! – Lamentou o jovem.
A loira, usando um vestidinho curto, sentou-se no seu colo. Numa
explosão de luxúria, enfiou a língua na boca de Thiago, antes que ele pudesse
esboçar qualquer reação.
Num primeiro momento ele retribuiu ao carinho, mas logo lembrou-se de
que estava beijando um homem. Rejeição e desejo se sucediam em ondas
no coração de Thiago. Mas ele havia bebido bastante e amava Jeitosinha…
No dia seguinte, consumada uma louca e completa noite de amor,
a loira acordou e viu Thiago, de pé, contemplando-a . Ela abriu um sorriso, mas não foi retribuída.
- Você é tão bonita… – murmurou o rapaz, com um semblante que mais
sugeria um lamento que um elogio.
- O que você achou da noite, meu amor?
- Eu… Eu estou confuso… Foi tudo muito diferente… Me vi fazendo
coisas que nunca imaginei ser capaz…
- Calma, amor… – respondeu docemente Jeitosinha – Sente-se aqui ao meu
lado. Vamos conversar melhor sobre isso…
- Bem… – respondeu Thiago, com um sorrisinho sem graça, podemos até
conversar. Mas sentar eu não consigo…
Jeitosinha e Thiago irão se reconciliar?
Confira o próximo e emocionante capítulo de “A SAGA DE JEITOSINHA”

A SAGA DE JEITOSINHA - CAPÍTULO IX

CAPÍTULO IX

Naquela manhã de segunda, a mãe e os sete irmãos sentaram-se juntos para o café, na longa mesa da copa. Era tradicionalmente o momento em que a família colocava seus assuntos em dia. Mas um silêncio incômodo pairava no ar. Jeitosinha sondou cada rosto, buscando em algum deles um sinal que indicasse quem teria escondido o corpo de Ambrósio. ?? claro que o pai não retornara da pescaria na noite anterior. Mas porque ninguém parecia se importar com o fato? Disfarçando o nervosismo, a moça arriscou perguntar à mãe:
- O papai não voltaria ontem?
- Sim, querida – respondeu Marilena – Mas ele ligou dizendo que uma ponte caiu e que eles estão isolados na vila onde foram pescar.
- Era a voz dele, mãe? Tem certeza?
- Que pergunta… Claro, minha filha. A ligação estava ruim, mal escutei o que ele dizia. Mas quem mais poderia ser?
Arlindo, o ciumento irmão mais velho, esboçou um sorriso enigmático, que Jeitosinha rapidamente captou como um indício de culpa. “Sim! Arlindo! Só pode ser ele!”, pensou. “Arlindo sempre desconfiou de que havia algo errado comigo. Ele nunca perdoou papai pelo carinho que me dedicava. Ele sabe, por alguma razão, que fui eu quem matou papai e apagou as evidências como parte de um plano de vingança! Mas porque esconder o corpo, em vez de simplesmente me entregar à polícia?”. As perguntas atormentavam a mente limitada de nossa heroína loira. Ela voltou para o quarto, cobriu o rosto com o travesseiro e começou a chorar baixinho. No princípio, chorava por medo. Pela confusão que tomara conta de sua vida. Mas logo sua dor se transfigurou, e Jeitosinha passou a verter seu pranto por saudades do seu Thiago. Lembrava-se das mãos do amado percorrendo seu corpo. Sentiu um calafrio e uma onda de excitação só de imaginar o toque suave de seus dedos. Neste momento, abruptamente, Arlindo abre a porta. Jeitosinha ainda tem tempo de disfarçar as lágrimas. Mas não a ereção.
- Ahá… Eu sabia! – Bradou o irmão, radiante, enquanto uma descarga de adrenalina fazia desaparecer do jeans apertado o volume comprometedor.
Conseguirá Jeitosinha escapar da revolta de Arlindo?
Confira mais tarde no próximo e emocionante capítulo!
- Você nunca me enganou, Jeitosinha… – a voz de Arlindo destilava
revolta e ódio.
- Vou contar teu segredo ao papai, assim que ele voltar da pescaria!
Aliás, vou contar ao mundo!
- Contar ao papai? – espantou-se a moça. Então, Arlindo não sabia que o
pai estava morto! Não foi ele quem escondeu o corpo! Jeitosinha estava
tão fragilizada que acabou assumindo sua bizarra condição ao irmão.
- Sim, Arlindo. Sou uma mulher aprisionada no corpo de um homem. Mas
sou a maior vítima desta situação! Eu lhe imploro: não revele o meu segredo!
- Não adianta, Jeitosinha… – retrucou o magoado Arlindo – Toda a
minha vida brinquei com cavalinhos feitos de palitos de fósforo fincados em
batatas, enquanto a princesa tinha os mais caros brinquedos.
Toda a minha vida dormi espremido num beliche, com os pés do Amarildo tocando as minhas
narinas, enquanto você tinha seu quarto e finos lençóis de seda…
Arlindo agarrou Jeitosinha pelos braços e fitou o fundo de seus olhos.
- Mas o que eu nunca vou perdoar mesmo foi aquela surra que levei
quando descobri a verdade sobre você… -Arlindo tremia de rancor.
- Mas nem eu mesma sabia! – Tentou defender-se Jeitosinha.
- Chega! Chega de suas mentiras!
- Arlindo virou-se em direção à porta. A irmã, desesperada, lançou-se
ao chão e abraçou seus pés.
- Não, Arlindo… Por favor! Eu faço qualquer coisa!
- Qualquer coisa? – O tom do rapaz agora era mais suave. – Comece
mostrando-se para mim. Quero vê-la nua!
Relutante, Jeitosinha livrou-se de suas roupas e revelou seu corpo
perfeito de mulher. Bem, quase perfeito.
- Não é justo… – balbuciou Arlindo, apontando o apêndice que fazia de
Jeitosinha um quadro surrealista – Até neste quesito você ganha de
mim…
- Por favor, não seja rude comigo…
- O que? – espantou -se o moço – Você imaginou que eu quero tocar você?
?? ruim, hein?
- Mas… O que você quer então? – Perguntou a moça, voltando a se
vestir…
- Você vai me render dinheiro, irmãzinha. Muito dinheiro!
O que Arlindo pretende? Como Jeitosinha sairá dessa?
Confira, no próximo e emocionante capítulo!

A SAGA DE JEITOSINHA - CAPÍTULO VIII

CAPÍTULO VIII

Adenair, que era estagiário na Secretaria de Meio Ambiente do município, conseguiu, sem chamar a atenção, retirar uma moto-serra no almoxarifado da Prefeitura. Como o dia seguinte seria um domingo, ele teria tempo de limpar a ferramenta e devolvê-la a seu local de origem antes que dessem pela sua falta.
Ao cair da noite, ninguém na família poderia imaginar o drama que se desenrolaria nas próximas horas. Um por um, os irmãos mais velhos foram saindo, como quaisquer jovens numa noite de sábado. Adenair foi o último a deixar a casa. Controlando as emoções, despediu-se do pai sem despertar suspeitas.
Enfim sós, Jeitosinha e Ambrósio assistiam ao telejornal das oito. Ela usava um vestidinho curto. Balançava provocativamente as pernas, mostrando toda a extensão de suas coxas bem torneadas. A loira sabia que o pai moralista logo iria implicar com a roupa.
- Precisa usar um vestido tão curto? Vá já se vestir direito!, ordenou Ambrósio, apontando para o quarto de Jeitosinha.
Era a deixa que a moça esperava. Ela entrou no seu quarto e reapareceu poucos minutos depois, causando a última e pior visão que aquele homem rude jamais tivera. Sua filha, seu meigo tesouro, estava completamente nua, portando a serra elétrica. Mas o maior espanto de Ambrósio foi constatar a existência de uma outra ferramenta, pendurada entre as pernas da bela loira.
- N-não pode ser! Não pode ser! O que é isso? – balbuciou o homem, com uma expressão patética, indicando o bráulio de Jeitosinha.
- Isto sou eu, papai! Eu sou o monstro que você criou!
O som ensurdecedor da serra abafou os gritos desesperado do homem, que de tão surpreso sequer teve forças para lutar.
Minutos depois, tudo era silêncio e calma. Jeitosinha tomou um banho demorado, vestiu-se, escondeu a serra elétrica num terreno próximo, seguindo o plano previamente combinado com o irmão, e dirigiu-se tranquilamente à casa de uma amiga, deixando montado na sala de sua casa um cenário dantesco.
Estava encerrada a primeira etapa de sua vingança. Ou pelo menos Jeitosinha imaginava que sim…
Prepare-se! No próximo capítulo Jeitosinha terá uma grande surpresa!
Passava da meia-noite quando Jeitosinha voltou para casa. Seu álibi foi perfeito: consumiu as últimas horas estudando Geografia com uma amiga, como costumava fazer.
Ela estava impressionada com a própria frieza: conseguiu concentrar-se nos livros e conversar amenidades, como se nada tivesse acontecido. Mas ainda sentia nas mãos o tremor da serra elétrica. Os gritos de Ambrósio continuavam ecoando em seus ouvidos. Eram sensações surpreendentemente gostosas. Arrependimento mesmo, só o de ter perdido o capítulo da novela das nove. “A mamãe eu matarei na hora do Jornal Nacional”, jurou para si mesma.
As luzes da sala estavam acesas. Viu pela janela os vultos de seus familiares. Entrou pela porta principal, preparando-se para fingir dor e desespero ao se deparar com os pedaços de carne e ossos de seu pai espalhados pela sala. Mas qual não foi o seu espanto ao perceber que não havia na casa um só vestígio de seu crime hediondo! Quatro de seus irmãos, inclusive Adenair, estavam assistindo TV, tranquilamente. Sua mãe havia se recolhido ao quarto.
- Onde está o papai? – perguntou.
- Foi pescar – respondeu Amarildo, o segundo filho de Ambrósio e Marilena.
- Pescar?
- Sim, deixou um bilhete com a mamãe, dizendo que resolveu na última hora e que volta amanhã à noite.
As belas pernas de Jeitosinha estremeceram e ela sentiu uma estranha vertigem. Realmente seu pai era dado a estes rompantes e o sumiço não chegava a espantar ninguém em sua casa. “Será que tudo não passou de uma alucinação?”, questionou-se. Mas não. Observando o revestimento plástico do sofá onde o crime havia acontecido, percebeu o cheiro de detergente e marcas de pano, que sugeriam uma limpeza recente. Jeitosinha puxou seu cúmplice, Adenair, até o quarto.
- O que está acontecendo?
- Eu é que te pergunto! – retrucou o irmão – Você não iria matar o papai?
- Matei! Eu matei! Alguém escondeu os restos, limpou a sala e ainda deixou um falso bilhete para a mamãe!
Adenair deu um gritinho ansioso e histérico. Jeitosinha esbofeteou-lhe a face e disse, resoluta:
- Calma. Você já esperou mais de 20 anos. Não acho que seja a melhor hora pra soltar a franga…
Aguardem próximo capítulo!

A SAGA DE JEITOSINHA - CAPÍTULO VII

CAPÍTULO VII

Não foi difícil para Jeitosinha convencer Adenair a juntar-se a ela em seus planos de vingança. Ele sabia que seu pai, violento e castrador, jamais o deixaria sair do armário. Com Ambrósio morto, um novo horizonte, muito mais colorido, se desenhava à sua frente.
- Já pensou, Jeitosinha? Vou poder comprar um Ka dourado… Colocar piercings nos mamilos… Fazer backing vocals no show do Edson Cordeiro! Dançar techno que nem o mineiro.
Adenair só não estava muito certo sobre a morte da mãe. Marilena sempre foi uma mulher zelosa de seus filhos, e muito carinhosa com os sete.
- Você acha que o erro da mamãe foi assim tão grave? – perguntou.
- Se eu acho? – indignou-se Jeitosinha – Minha vida foi uma farsa!
- Mas sempre é tempo de recomeçar… Você pode fazer uma operação de troca de sexo…
- Não é tão simples. Eu gosto de mim como sou! O problema é que o mundo não está preparado para aceitar pessoas diferentes!
- Pôxa… O mundo aceitou o Michael Jackson! – ainda insistiu Adenair.
Mas Jeitosinha estava decidida.
- A vingança vai começar. Papai será a primeira vítima.
- Qual é o seu plano?
- Amanhã é sábado. Neste dia, à noite, todos os nossos irmãos saem para se divertir.
Mamãe tem a novena na casa de Dona Nair e papai e eu costumamos ficar sozinhos em casa.
Adenair ouvia com atenção o plano traçado por Jeitosinha na noite anterior.
- Papai terá uma morte violenta. Sangrenta. Algo tão hediondo que ninguém suspeitará que o crime poderia ter sido praticado por uma pessoa como eu, uma jovem loira, maravilhosa e frágil…
- E como eu poderei ajudar? – perguntou Adenair.
Jeitosinha esboçou um sorriso estranho e respondeu, num tom seco:
- Me arranje uma serra elétrica!
Sangue! Morte! Traição! Vingança!
Confira tudo isso e no próximo e mais emocionante capítulo!

A SAGA DE JEITOSINHA - CAPÍTULO VI

CAPÍTULO VI

Dos seis irmãos, só o mais velho não se dava bem com Jeitosinha. Todos os outros nutriam um enorme carinho pela caçula. Adenair, o sexto filho, um ano mais velho que a irmã, era o grande amigo e confidente da moça.
- O que foi, Jeitosinha? Você parece distante… – perguntou Adenair, durante o café da manhã. Jeitosinha percorreu a cozinha com os olhos e certificou-se de que os dois estavam sozinhos.
- Irmão… Você saberia guardar um segredo muito importante?
O moço gelou por dentro. Embora Jeitosinha não suspeitasse, Adenair também guardava um mistério. Ele balançou a cabeça positivamente, respondendo à pergunta.
- Então, vem comigo… A loira puxou o irmão pela mão até o seu quarto. Trancou a porta e desabotoou a calça jeans.
- Que é isso! O que você está fazendo, Jeitosinha? Sem dizer uma palavra, Jeitosinha exibiu seu membro masculino a Adenair.
- Não! Não pode ser! Me diz que isso é de borracha e que hoje é Primeiro de Abril! – reagiu o rapaz.
- ?? o que você está vendo, irmão… Eu sou homem!
- Não, Jeitosinha… Isso aí não quer dizer muita coisa… – o olhar de Adenair parecia estranho – Eu também tenho um e… e… – Jeitosinha entendeu na hora. Então não era por acaso que Adenair comprava todos os discos da Celine Dion e anotava as dicas da Ana Maria Braga.
- Adenair… Você é gay?
- Sim! Minha condição é muito pior do que a sua! – confessou o irmão, entre soluços – Você pelo menos pode usar aquele vestidinho pink ma-ra-vi-lho-so!
Jeitosinha abraçou Adenair e enxugou suas lágrimas com os dedos.
- Adenair… Só me tira uma dúvida…
- ??, fui eu sim. – emendou o rapaz – Sua Barbie está no fundo da minha gaveta de meias…
E agarrou-se a Jeitosinha com uma enorme sensação de alívio.
Será que Adenair vai se juntar à irmã no plano de vingança?
Confira no próximo e emocionante capítulo!